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MUNDO
Em dezembro de 2011 a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine Lagarde em visita oficial a Nigéria cobriu de elogios o modelo econômico adotado naquele país. As palavras de incentivo e reconhecimento da diretora do FMI foram amplamente reproduzidas afinal o país apresenta números importantes, a saber: O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um crescimento de 7% em 2011, a produção de petróleo é a maior da África e quando falamos em PIB per capita o valor ultrapassa os 2 mil dólares.
Naturalmente, quando observamos o PIB per capita, devemos considerar que existem membros da elite local e internacional apropriando-se, individualmente, da quota-parte de pelo menos mil cidadãos pobres gerando um quadro real de pobreza absoluta ocupando o país africano o 158º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Madame Lagarde conhece perfeitamente estes problemas e antes de visitar a Nigéria mandou publicar no site oficial do FMI: “Um novo projeto de processamento de petróleo e urânio está pronto para impulsionar o crescimento econômico da Nigéria no próximo ano [2012]” Mas qual seria este novo projeto? De modo concreto observou-se, três dias após a visita da diretora do FMI, um gigantesco derramamento da Shell poluindo 120 quilômetros do litoral nigeriano. Fato em nada novo na história daquele país. O “novo projeto”, ao que parece, preservou a mesma fórmula de extração predatória procurando o maior lucro negando-se as mínimas condições de segurança. A preocupação de madame Lagarde certamente não está nas condições de vida do povo nigeriano. O FMI está de olho no crescimento da dívida externa do maior produtor de petróleo africano cujo volume não para de crescer ameaçando o fluxo de recursos para os bancos europeus e estadunidenses. Para garantir o pagamento dos títulos aos bancos o governo, dentre outras medidas, cortou o subsídio dos combustíveis gerando um aumento absurdo nos preços dos alimentos e transportes. A reação da população não poderia ser outra a não ser a convocação de uma greve geral somada a revolta em diferentes pontos do país obrigando um tímido recuo do governo em seus atos anti-populares. Lagarde no Brasil A diretora do FMI esteve no Brasil no mesmo mês de dezembro de 2011 e seguiu rigorosamente o script. Elogiou o modelo econômico nacional e declarou que o país pode servir de exemplo para as potências em crise. Obediente o governo brasileiro não demorou em dar o exemplo. Somando-se aos cortes rotineiros à educação e saúde o ministro Edison Lobão anunciou a decisão da presidente Dilma Rousseff que autoriza os novos leilões para o setor petrolífero neste ano de 2012. A exploração predatória do petróleo no Brasil está em marcha e segue o modelo internacional no qual as normas de segurança tornam-se supérfluas conforme provam o vazamento da Chevron somados ao aumento de acidentes envolvendo os trabalhadores do setor. Brasil, Nigéria e segurança energética A política econômica do petróleo no Brasil segue os passos do entreguismo o mesmo ocorrendo na Nigéria. Existem grandes diferenças entre os dois países isso é evidente. Entretanto igualam-se na abdicação do uso do poder econômico do petróleo em beneficio do desenvolvimento nacional. O Brasil garante com seu modelo de exploração petrolífera a compra dos títulos das empresas européias e estadunidenses tudo isso intermediado pelos bancos internacionais. Este é o exemplo que madame Lagarde aponta e de forma patrioteira a grande imprensa alardeia com todo apoio do governo. Neste momento não existe PIG ? Somados a esta questão existe ainda a ameaça de uma guerra de proporções mundiais envolvendo as intenções dos Estados Unidos em controlar o petróleo do Irã principal fornecedor de petróleo ao governo da China. E o Brasil? Na hipótese, não muito remota, de uma crise de abastecimento em função do fechamento do Estreito de Ormuz e conseqüente elevação dos preços do petróleo continuará de mãos amarradas impedido de implantar uma política que atenda os interesses nacionais? Lembre-se a atual política econômica do petróleo retirou da Petrobrás o monopólio existindo inúmeros entraves, em função da abertura do mercado nacional, a fixação de preços desconsiderando-se o preço internacional. É exatamente isso que acontece na Nigéria. Wladmir Coelho
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O Egito possui 18,2 bilhões em reservas provadas de petróleo existindo a expectativa de comprovação para mais 2 bilhões segundo informações do Ministério do Petróleo revelando estes números a pequena influência do país neste setor da economia quando comparado, por exemplo, as reservas gigantescas da Líbia de 56 bilhões de barris.
Entretanto, tratando-se de petróleo, não podemos desprezar o valor estratégico do controle de qualquer volume de reservas ocupando o Egito a condição de importante fornecedor para Israel país vital para o controle estadunidense no Oriente Médio e, por conseqüência, de sua segurança energética. O Egito, desde o acordo de paz assinado em 1979, tornou-se obrigado a fornecer petróleo para Israel existindo, dentre os motivos que levaram as últimas manifestações contra o ditador Mubarack, um assalariado dos EUA, a denuncia de condições vantajosas para o comprador nesta negociação. O transporte de petróleo para a Europa também depende da estabilidade política do Egito possuindo este país o controle do Canal de Suez cujo fechamento poderia aumentar em 10 mil quilômetros a viagem dos petroleiros. Imaginem as consequências do aumento no valor do transporte e conseqüente elevação dos preços dos combustíveis no velho continente atualmente mergulhado em profunda crise econômica. Assim para o capital dos Estados Unidos e União Européia a manutenção de um governo simpático torna-se imperativo. Desta forma as manifestações contra o ditador Osnir Mubarack deveriam, na ótica destes interesses, resultar no máximo em substituição dos nomes mantendo o atual modelo econômico. Neste ponto, a manutenção do modelo econômico, encontraremos pronto o discurso ideológico liberal através de suas agências de classificação afirmando e provando através das estatísticas de sempre as “maravilhas” da desregulamentação econômica enquanto a população enfrenta uma forte alta nos alimentos, desemprego, baixos salários e cortes no orçamento. Como sabemos todos estes itens, somados a exigência de liberdade política, tornaram-se os causadores dos protestos populares. Este sofrimento da população egípcia mostra-se em contraste aos indicadores econômicos apresentando o Egito 6% de crescimento em 2010 levantando a empolgação do sistema financeiro internacional que passou a exigir, inclusive, a admissão do país africano no grupo conhecido por BRIC. Neste clima de empolgação financeira a Fitch Ratings, importante agência de classificação de risco, através do seu diretor para o Oriente Médio e África Richard Fox, anunciou, em 13 de janeiro deste ano de 2011, a promoção do Egito em seus índices justificando que: “A economia do Egito mostrou-se resistente a crise global e está agora no modo de recuperação” e continua em seu otimismo: “As reservas [do Egito] estão crescendo e apresentam um pequeno déficit em conta corrente”, mas esta estabilidade poderia sofrer perturbações considerando-se a possibilidade de eleições este ano afirmando: “As eleições sugerem um aumento das incertezas políticas”. Espantoso, mas verdadeiro. Os interesses financeiros não combinam com mudanças democráticas a estabilidade dos grupos econômicos internacionais depende de governos autoritários e/ou submissos ao capital. Incrível ! No Egito, infelizmente, o desemprego, a fome desconsideraram os encantados índices das agências e levaram o povo às ruas do Cairo ligando de forma obvia estes problemas a figura do ditador. Os grupos financeiros, União Européia e Estados Unidos defendem este discurso e tentam conduzir o problema reduzindo as exigências populares a mera substituição da nefasta figura de Osnir Mubarack. Como parte desta manipulação o termo democracia fica restrito a condição de realizações periódicas de eleições excluindo-se o debate em torno da evidente falência do modelo desregulamentador e suas exigências de desnacionalização e reprimarização econômica. No Egito Osnir Mubarack radicalizou o processo desregulamentador iniciado por Anuar Sadat enterrando o modelo nacionalista de Estado Empresário instituido por Gamal Nasser nos anos 50. A figura de Nasser, de forma evidente, acrescenta uma tradição nacionalista e antiimperialista servindo de combustível para as reivindicações populares e nota-se, nas imagens dos protestos, a presença de muitas fotografias do líder nacionalista. Todavia durante os trinta anos de ditadura o conceito de democracia ensinado nas escolas e difundido por muitas ONGs locais encontra-se influenciado pela doutrina do Project on Middle East Democracy (POMED) instituição financiada com recursos do governo dos Estados Unidos e no Egito predomina, do ponto de vista populacional, jovens nascidos após a morte de Nasser em 1970 desconhecendo, portanto, alternativas de modelos políticos e econômicos além do apresentado através dos ensinamentos importados dos EUA. Neste quadro apresenta-se em vantagem a figura de Mohamed ElBaradei simbolizando o modelo de democracia do POMED, ou seja, um líder oposicionista moderado defensor de reformas pontuais no modelo econômico ( leia-se introduzir políticas sociais compensatórias) possuindo, principalmente, condições de garantir a segurança de Israel em natural associação aos interesses dos EUA notadamente nos assuntos relativos ao enfraquecimento do Irã. Baradei, considerado moderno demais durante o governo Bush, encaixa-se perfeitamente na proposta do governo Obama para o norte da África e Oriente Médio podendo representar o “novo” considerando-se a sua posição quanto a invasão do Iraque negando-se a reconhecer a existência de armas de destruição em massa preocupado, atualmente, em encontrar os meios para desmontar o projeto nuclear do Irã. Quanto ao petróleo Baradei busca os meios de criar uma agência internacional de regulação energética fazendo coro aos defensores da governança mundial via interesses dos oligopólios. Este quadro, considerando-se as questões econômicas, revela a crise do neoliberalismo, entretanto não surgiu de forma organizada internacionalmente uma proposta para atender e mobilizar a população trabalhadora rumo a defesa de seus interesses gerando o consenso, pelo menos neste momento, em torno de medidas compensatórias permitindo a sobrevivência deste moribundo modelo. Wladmir Coelho |